Para prevenir o impacto das alterações climáticas e a contaminação das águas subterrâneas provocada pelas atividades humanas o projeto MAR2PROTECT, coordenado pelos investigadores Ana B. Pereiro e João M. M. Araújo, do Laboratório Associado para a Química Verde (LAQV)/REQUIMTE, da FCT NOVA, está a desenvolver uma ferramenta digital que recebe informações em tempo real de sensores colocados em locais de risco. Estes dados apoiarão os políticos no combate à degradação da qualidade e quantidade das águas subterrâneas.
A RTP esteve a visitar as instalações deste projeto, na FCT Nova, Campus da Caparica, no dia 31 de março de 2023, para a produção de um programa sobre o MAR2PROTECT.
O projeto recebeu um financiamento superior a 4 milhões de euros no âmbito das Ações de Investigação e Inovação do Programa Horizonte Europa.
A ferramenta é baseada numa abordagem de nova geração de Recarga Controlada dos Aquíferos (MAR), com a finalidade de melhorar a qualidade e a quantidade das águas subterrâneas. Pretende-se que o MAR2PROTECT leve a uma melhoria acentuada da proteção das águas subterrâneas em toda a União Europeia, assim como a criação de conhecimento para uma gestão sustentável da água.
“Nas estações de tratamento de água há uma concentração muito elevada de compostos PFAs que são prejudiciais à saúde humana. O que queremos é limpar as águas antes de chegarem ao Rio Tejo para prevenir a contaminação”, afirma Ana B. Pereiro.
Até 2026, serão colocados os sensores para analisar as águas, em sete locais, dois dos quais em Portugal, um no rio Lima e outro em Frielas, nas águas do Tejo atlântico, que servem municípios da área metropolitana de Lisboa. No entanto, esta ferramenta vai ainda recolher informações de diferentes ecossistemas, incluindo Itália, Espanha, Holanda, Tunísia e África do Sul, para captar uma ampla gama de informações e configurações de condições climáticas, poluição e contexto social.
Já existe uma planta piloto nas instalações da FCT Nova que vai degradar os compostos sintéticos para eliminá-los definitivamente do ambiente. “Esta degradação forma gases que também contribuem para o aquecimento global. Com uma planta piloto semelhante a esta vamos limpar o ar para evitar que esses compostos cheguem à atmosfera e contribuam para o aquecimento global”, descreve Ana B. Pereiro.
“As alterações climáticas e globais têm um sério impacto na saúde e bem-estar humanos, bem como na segurança alimentar e na biodiversidade. As metas de poluição zero planeadas para 2030 pela União Europeia só poderão ser atingidas se ações urgentes forem tomadas”, refere Ana B. Pereiro.
Graças à sua abordagem holística e à alta replicabilidade dos seus resultados, o MAR2PROTECT levará a uma melhoria acentuada da proteção das águas subterrâneas em toda a UE e à criação de conhecimento para uma eficaz transição para uma gestão sustentável da água. O consórcio inclui 8 parceiros e 1 entidade afiliada de 6 países da EU (NOVA como coordenador, UNIBO, CIIMAR, CETAQUA, AQUATEC, IHE, IT, FEUGA, KTU), 1 parceiro da Suíça (FHNW) e 2 parceiros internacionais da Tunísia (ISSBAT) e África do Sul (SUWI). Além disso, a inclusão de 3 grandes empresas de abastecimento de água e de tratamento de águas residuais (AdTA, Dunea e HERA) e uma administração pública (Cidade do Cabo) como parceiros associados garantirá um elevado impacto do projeto.
Os PFAS são compostos sintéticos presentes em copos de papel descartáveis, frigideiras antiaderentes, têxteis capazes de repelir a água, tintas, espumas de combate a incêndios e até no papel higiénico. Estas substâncias estão associadas não só a riscos ambientais (poluição das águas e dos solos), mas também de saúde humana, estando relacionadas com doenças, como o cancro, o colesterol alto e a diminuição da eficácia de vacinas em crianças.